terça-feira, 6 de outubro de 2015

As Naus


 “O que não tenho e desejo/é que melhor me enriquece."(Manuel Bandeira)


O que não tenho e desejo
me faz  Humano. Assim  querência
desque foi Côco o guariba*,
descendo os degraus das árvores
pra ser Pai Grande em terras do sem-Fim.

O que não tenho e desejo
me fez cabinda e Jaci: o Mar
onde os abismos e a surpresa dos fins que não aportam Nunca,
tesouros de sangue e Corte.

O que desejo, não tendo à volta do umbigo
levou meus pés das savanas
para os terreiros de senhor e escravo, 
onde mortalha era o motor das giras
em muitas noites Escuras, as sobras
sendo vencidas no tapa
entre meu filho e os abutres

Houveram tardes manhãs
no sexto dia prolongado ao extremo
querubins cantando o Depois,
história
num fado lógico:

O que não tinha e Queria
levou meus pés da porta das cavernas
à  direção das Estrelas, apesar dos quebrantos,
do candomblé das sereias
desses abismos, fronteiras
de mais lugares sem Fim.

(*)Guariba: espécie de macaco.




 



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